22/08/2023
Política

SERGIO FANUCCHI: “Se o deputado for expulso, saio do PSB”

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Guarapuava – A repercussão sobre o caso “Carli Filho” cresce à medida em que os dias passam. As análises, entretanto, visam o mesmo denominador comum, ou seja, imputar culpabilidade ao deputado pela morte dos jovens Gilmar Yarede e Luiz Murilo de Almeida na madrugada de 7 de maio deste ano em Curitiba. A pena que está sendo pedida vem em dose dupla: cassação do mandato e expulsão do PSB, partido pelo qual foi eleito.
Caso seja confirmada a expulsão do PSB, cujo prazo para apresentar defesa junto a Comissão de Ética do Partido, se encerraria na quinta-feira, dia 18, mas que, segundo Severino Aráujo, líder do partido no Paraná, teve interpretação equivocada por parte da imprensa, Carli Filho terá um cúmplice em Guarapuava. O advogado Sergio Fanucchi (foto), que preside o PSB Municipal disse que deixará a agremiação. “Serei solidário ao prefeito Fernando Ribas Carli e ao deputado e qualquer coisa que acontecer a ele (Carli Filho) será extensiva a mim. Sou companheiro e se o deputado for expulso saio do partido”, avisou.
Severino Aráujo, em entrevista exclusiva à TRIBUNA-REDE SUL DE NOTÍCIAS na tarde de quinta-feira também confirmou ser amigo da Família Carli. “Sou amigo do Carli há mais de 20 anos. Abonei a ficha de filiação do seu filho no nosso partido, mas entre a amizade e o dever que tenho frente a 25 mil filiados do PSB, fico com o dever. A tendência é pela expulsão”, confirmou.
Quanto a pré-disposição de Fanucchi em abandonar a presidência do PSB, Severino limitou-se a dizer que “não tem problema”. Ele lembrou que o partido tem um vice-presidente e dois vereadores (Sadi Federle e Lizandro Martins) e que respeita qualquer decisão. “Não devemos fazer de conta que esse acontecimento que mobiliza a opinião pública nacional não existe. Tenho que respeitar e acatar as normas estatutárias. O deputado e seu pai merecem o meu respeito, mas não posso agir como amigo quando lhe está sendo imputada a responsabilidade por um acidente que matou duas pessoas. Não sou hipócrita e as normas partidárias valem para mim como presidente, para deputados, senadores, vereadores, governadores, ministros”, afirmou.
Ele garantiu que o PSB dará a Carli Filho o direito de ampla defesa nesse processo. Foi assim que justificou o fato de na quinta-feira, 28, interpretar que não seria esse o prazo final para que o deputado – que ainda está internado no Hospital Albert Einstein em São Paulo – se defendesse perante a Comissão de Ética. “Houve um equívoco.
Severino observou que o caso possui dois prazos a serem cumpridos. Um deles é o pedido de cassação do mandato que foi solicitado pela Família Yarede e que tramita na Comissão de Ética da Assembléia Legislativa do Paraná. Esse processo já findou com a renúnica do deputado na tarde de ontem, sexta-feira, dia 29.
Outro está em trâmite dentro do PSB e que trata da expulsão de Carli Filho das hostes pessebistas.
“Nós fizemos a notificações extra-judiciais via AR (Correios) e pelo Cartório do 1o Ofício em Curitiba e em Guarapuava. Este último o prazo expirou no dia 25 para a entrega ao deputado, portanto, ainda há o prazo para o retorno do Cartório – se entregou ou não – ao Partido. Esse prazo acaba no dia 6 de junho”, explicou.
Em ambas as notificações, segundo Severino Araújo, só existe a validade a partir do momento em que o destinatário recebe a notificação.
Entretanto, no início da semana o próprio Severino informou que o prazo se encerraria na quinta-feira.
O que chama a atenção, porém, é que em nenhum momento Severino disse que as notificações foram encaminhadas ao Albert Einstein. Tentou justificar, mas não convenceu quando disse ter conseguido o endereço somente na quinta-feira, mas que teria que fazer uma avaliação técnica do local. Uma colocação que soa, no mínimo, irônica.
O presidente alega também que o processo tem que seguir todos os ritos previstos pelo Estatuto do partido para não deixar brechas.
Um fato que pode ter adiado os rumos da decisão do PSB seria o recebimento de uma carta assinada por Carli e endereçada ao partido. “A carta chegou ontem (quarta-feira), mas só em entregaram hoje (quinta-feira)”, disse Severino à TRIBUNA.
Severino não quis revelar o teor para não passar por cima da Comissão de Ética do PSB, mas garantiu que o conteúdo do documento será revelado nos próximos dias.
“Não veio nada oficial, nenhuma procuração para que o pai seja o preposto. É uma correspondência simples”, afirmou. Informou também que até quinta-feira (dia de fechamento desta edição) o Partido não tinha sido procurado por nenhum advogado do deputado.
Se por um lado a Família Carli se “fecha em copas” e não há informações oficiais sobre o estado de saúde do deputado – informações extra-oficiais de pessoas ligadas à família dizem que Carli Filho receberia alta nesta segunda-feira, dia 1º de junho e ainda permaneceria em São Paulo por mais 10 dias; só se comunica escrevendo algumas palavras e teria seqüelas estéticas no rosto – , a pressão da sociedade não para e já respinga no pai do deputado, o prefeito licenciado de Guarapuava Fernando Ribas Carli (PP) que teve ação na Justiça Eleitoral reaberta na terça-feira, dia 26, sob suspeita de abuso de poder político na campanha eleitoral do ano passado.
Mas não é só isso. A Família Yarede não se cala e a imagem de Cristiane, mãe do jovem que teve a cabeça decepada no acidente, ganha a mídia, choca a sociedade, se revela num misto entre o desespero pela justiça e a vingança. O pai, Gilmar, também faz essa caminhada. Percorreu gabinetes na Assembleia Legislativa conclamando os deputados para audiência pública neste sábado, dia 31, às 9 horas, na Boca Maldita em Curitiba, espaço que servirá de palco para o lançamento do movimento “Boca Bendita” presidido por Cristiane e que vai clamar por justiça.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, também se pronunciou durante estadia em Curitiba na quarta-feira, dia 27. Defendeu que episódios como o de Carli Filho, que ganhou repercussão social, exigem uma resposta rápida da Justiça. “Casos como esse têm de ser julgados rapidamente, para não estimular o raciocínio da população de que há impunidade no Brasil”, disse ele à imprensa estadual, referindo-se à possibilidade de Carli ser considerado culpado.
Britto observou também que o acidente envolvendo o deputado reflete a má compreensão da função pública. “Não o acidente em si, que pode ter sido uma fatalidade, mas pelo histórico do deputado, que já tinha a carteira cassada e continuava a dirigir, porque tinha a certeza de que jamais seria impedido, por causa do cargo que ocupa.”

Cristina Esteche

Jornalista

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